29 de mai. de 2010

Seja punk mas não seja burro !

   Esse era o brado que em 1987 vinha do sul do país na faixa Tom & Jerry e fechava o antológico álbum  Histórias de sexo & violência da banda punk Os Replicantes. "Seja punk mas não seja burro" era direcionado à falta de informação tanto musical quanto política existente dentro do já quase extinto movimento punk tupiniquim do final dos anos 80. Tudo beirava a decadência:  de um lado, lugares comuns melódicos e o iletramento da periferia, do outro o punk-pop dos ex-punks rendidos pelo assédio das grandes gravadoras.
   "Seja punk mas não seja burro" deveria ser o subtítulo do álbum Sandinista !, lançado em 1980pela banda The Clash. Sandinista ! foi a revolução dentro da revolução. A falta de ótica e o espírito caolho da fidelidade (impensada) ao lugar comum geral que rechaçava o The Clash como banda pop foi a grande demonstração do atraso em que a suposta consciência punk estava mergulhada. É notório o  pouco caso com que essa brilhante peça Sandinista ! foi recebida pelo público que já havia sido "contrariado" no lançamento de London Calling em 1979. Era esperado pois que o Clash não "sofisticasse" seu som, ou seja, continuasse no medievalismo dos três acordes "ramonianos" (alguma semelhança com o apedrejamento a Bob Dylan em Newport e Manchester ?). Pouco se entendeu que a proposta de Sandinista ! era revolucionária, não só pelo nome festejando a deposição do ditador nicaragüense Somoza, mas sobretudo pelo cosmopolitismo musical: trazer à estética raivosa do punk rock o inconformismo reggae, a anarquia jazz-fusion e o deboche rock´a´billy, tudo temperado com altas doses psicodélicas do dub jamaicano. Isso tudo era um chamado à revolução social através da convivência /conivência entre diferentes estilos. A revolução pela união: um chamado à inteligência estético-comportamental-musical que poucos entenderam.
   A capacidade de criação melódica da dupla Strummer/Jones dentro de toda essa experimentação musical era fantástica, e levando em conta o devido contexto histórico/musical, não devia nada a Lennon/Mccartney. A prova pode ser tirada em músicas como Charlie don´t surf, Rebel Waltz e o belíssimo fusion If a Music Could Talk. Melodias singelas, músicas arrojadas com conteúdo explosivo: essa era a beleza do Clash lamentavelmente incompreendida pelos "cabeça-dinossauros" do atraso.



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