Gosto muito dos trabalhos que associam (criam) poesia a partir do movimento da dança. Memorável, por exemplo, é o papel de voyeur de João Cabral de Melo Neto, ao observar e "poematizar" a dança/ato sexual da dançarina andaluza em Estudos para uma bailadora andaluza do livro Quaderna de 1956. Os movimentos corporais formam um campo profícuo ao labor poético. Talvez nessa linha li o poema do poeta uruguaio Washington Benavides Psalmo a Tamara Karsavina de 2005. Tamara Karsavina foi bailarina do grupo de Diaghilev por volta de 1910.
Fiz a tradução do poema porque queria entrar em sua estrutura e clima, um clima de louvação:
Salmo a Tamara Karsavina
(com duas interrupções)
I
Tamara Karsavina: baila-me!
Com as pontas sutis
de tuas sapatilhas (compasso áureo).
Lança-me – sem para-quedas – a teu espaço:
Baila-me !
Eras a voluta da queima dos anjos
Conforme ordenara Pio XII,
Baila-me:
Torça-lhe o pescoço ao cisne
Que eras - não a Dario-, leva-me
Com fúria a Gayameh; desprenda-te
Das sílfides dos falsos lagos
Entre bastidores, olor de linimento, iluminadores
E cenógrafos – ás vezes – geniais,
Tamara Karsavina: baila-me!
Voa com o tutu das galáxias,
Olha-me com teus olhos maquiados
Com o kol da Morte !
Tamara Karsavina: Baila-me !.
Vou em um táxi amarelo pela zona
Do Mercado Velho que concebeu Tarkovski,
Guardada por ruidosos ventos,
E tú, de repente, me assaltas
e voam foguetinhos de papel entre garotos
e viaturas da polícia;
Não voam cisnes, voam cabos eleitorais,
Embalados por músicas longinquas de um combate angélico
De Brueghel...
Tamara Karsavina: baila-me!
Devolva do sonho este semi-cego
Cantor de tua dança cósmica.
(1a. Interrupção)
“ A dança de Karsavina é similar ao mais fino poema,
ao soneto mais delicadamente escrito, em que cada verso
é um tributo ao altar da poesia e regozijo da alma...
Ela se derrama por todo o mundo, voando sobre os bosques,
os vales, as montanhas e os mares, como uma fada
com um radiante sorriso em seus lábios...”
EDWARD STARK
II
Tamara Karsavina: baila-me !
Francisca Sánchez: me acompanhe !
Nené Diaz: a não ser que a Velha Senhora
se apresente, tem a minha mão.
Ceda-lhe o passo,
E vê...
(2a. Interrupção)
Desposada pelo diplomata inglês Henry J. Bruce em 1917,
Nessa Londres de neblinas amarelas, modernista, que desnudou
Eliot em sua “Terra Arrasada”, Henry J. Bruce com sua esposa, no vestíbulo
Do Teatro de Ópera
Foi interpelado por um jovem anarquista italiano,
Mateo Filiberto, quem o objetou que ninguém poderia ser o único proprietário
De uma obra de arte universal (Karsavina), e como chegaram
Aos entreveros, o assunto terminou com a detenção do jovem anarquista intransigente.
Tamara bailou nos balés russos de Diaghilev; com Vaslav Nijinski, fundaram “O espectro da rosa”
e “Petrushka”. Tamara levou à práxis as danças que sonhara Fokine.
Regressou aos palcos em 1919, reabilitando a Massine, a George Balanchine.
Na década de trinta foi mestra de Margot Fonteyn,
Tendo se radicado definitivamente – sob dois palmos de terra –
Em maio de 78.
III
Tamara Karsavina: baila-me
Francisca Sánchez: acompanha-me
Nené Diaz: ama
me...
Navios espaciais disparos
De arcabuzes angélicos pintados
Por artistas índios, o rumor do mecanismo
Celeste que controlam teus tornozelos,
E os peões de teus pés, Tamara Karsavina...
Diz o taxista: “São
trinta pratas, patrão...”.
Psalmo a Tamara Karsavina
(CON DOS INTERRUPCIONES)
I
Tamara Karsavina: báilame!
Con las sutiles puntas
De tus zapatillas (compás áureo).
Lánzame –sin paracaídas- a tu espacio:
Báilame!.
Eres una voluta de la quema de los ángeles
Que ordenara Pío XII,
Báilame:
Tuércele el cuello al cisne
Que eres –no a Darío-,llévame
Con furia a Gayaneh; despréndete
De las sílfides de los falsos lagos
Entre bastidores, olor a linimento,tramoyistas,
Y escenógrafos –a veces- geniales,
Tamara Karsavina: báilame!.
Vuela con el tutú de las galaxias,
Mírame con tus ojos maquillados
Con el kohl de la Muerte!
Tamara Karsavina: báilame!.
Voy en un taxi amarillo por una zona
Del Mercado Viejo que concibió Tarcovski,
Custodiada por ruinosos conventos,
Y tú, de pronto, me asaltas
Y vuelan palomitas de papel entre infanto-juveniles
Y furgonetas de la policía;
No vuelan cisnes, vuelan mariposas electorales,
Trepanado por músicas huídas de un combate angélico
Del Brueghel..
Tamara Karsavina: báilame.
Vuélveme al sueño de este semiciego
Chantre de tu danza cósmica.
(1° Interrupción)
"La danza de Karsavina es similar al más fino poema,
al soneto más delicadamente escrito, en el que cada verso
es un tributo al altar de la poesía y regocija el alma...
Ella se derrama por todo el mundo, volando sobre los bosques,
Los valles, las montañas y los mares, como un hada
Mágica con una radiante sonrisa en sus labios...”
EDWARD STARK.
II
Tamara Karsavina: báilame!
Francisca Sánchez: acompáñame!
Nené Díaz: a no ser que la Vieja Señora
Se presente, la mano tenme.
Cédele el paso
Y ve...
(2° interrupción)
Desposada por el diplomático inglés Henry J. Bruce en 1917,
En ese Londres de nieblas amarillas, modernista, que desnudó
Eliot en su “Tierra Baldía”, Henry J.Bruce con su esposa,en el vestíbulo
Del Teatro de la Opera
Fue interpelado por un joven anarquista de origen italiano,
Mateo Filiberto, quien le objetó que nadie podía ser el único propietario
De una obra de arte universal (La Karsavina), y como se fueron
A las manos y a los guantes y bastones, terminó el asunto con la detención
Del joven anarquista intransigente. Tamara bailó en los Ballets Rusos
De Diaghilev; junto a Vaslav Nijinski, fundaron “El espectro de la rosa”
Y “Petrushka”. Tamara llevó a la praxis las danzas que soñara Fokine.
Volvió a la danza en 1919, recreando a Massine, a George Balanchine.
En la década del Treinta fue maestra de Margot Fonteyn,
Ya radicada definitivamente en Inglaterra –bajo dos palmos de tierra-
En mayo del 78.
III
Tamara Karsavina: báilame
Francisca Sánchez: acompáñame
Nené Díaz.: ama
Me...
Navíos espaciales disparos
De arcabuces angélicos pintados
Por artistas indios, el rumor del mecanismo
Celeste que controlan tus tobillos,
Peonza de tus pies, Tamara Karsavina...
Dijo el taximetrista: “Son
Treinta fichas, patrón...”
Washington Benavides
En un mayo/junio de pesadilla.
Montevideo en el 2005.
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